STREET ART (micro conto em português e espanhol)

 

A luz do dia que entrava pela janela começava a minguar naquela tarde de domingo. Lucho estava de plantão, o que não nos permitiria cumprir juntos nosso preceito dominical de ir à missa.

A solidão que esses eventuais plantões de fim de semana me ocasionaram foi minimizada quando assisti à celebração eucarística, permitindo que o preceito não tivesse o peso de uma obrigação, mas a alegria de um encontro.

Meus filhos eram pequenos e como se fossemos um grupo que vai em uma excursão, colocamos o mais novo, ainda bebê, no carrinho e juntos, subimos a íngreme Avenida Teodoro Sampaio na direção de uma paróquia popularmente chamada de "El Calvário".


Foto: Drone Cyrillo / conexaoplaneta.com.br/

O silêncio do crepúsculo nos surpreendeu naquela região comercial onde predominava a agitação do trânsito e a caminhada rápida dos pedestres nos dias laborais. A Teodoro Sampaio é até hoje uma avenida bem movimentada...

Sempre que íamos àquela Igreja, entendíamos por que ela era chamada de "Calvário". Ela está no topo de um morro e empurrar o carrinho até lá era uma verdadeira Via Sacra...
Quando a missa terminou e voltamos para casa em silêncio no meio da escuridão da noite, vimos aparecer nas esquinas, alguns "vândalos" que queriam expressar sua rebeldia social através de uma arte incompreendida na época.

Nem todo ato rebelde é necessariamente bom, nem toda pintura é uma obra de arte, então quando a luz do dia chegou, algumas dessas obras me agradaram, outras não...
Os anos passaram... Minha compreensão artística amadureceu, assim como minha sensibilidade para ver a vida e a realidade. Hoje ouço rock, leio filosofia e escrevo minhas memórias, algo que não fazia há vinte anos…

A arte urbana é uma característica das grandes cidades onde os contrastes sociais são grandes. Os artistas suburbanos do passado tornaram-se pessoas respeitáveis porque têm algo importante a dizer...

Esse tipo de expressão pode ser apresentada como um grito abafado agredindo uma estética pré-estabelecida ou pode ser como uma melodia agradável que embeleza, encanta ou nos leva a refletir em uma espécie de museu a céu aberto.

Foto: Martha Palma

No mês de abril tive duas experiências próximas com este tipo de arte, que a cada dia me surpreende mais.  Esta arte é uma forma de vandalismo urbano, mal compreendido como diz Banksy, sem deixar de trazer mensagens de esperança para um mundo conturbado como Kobra faz. 

Gosto porque é uma arte para todos, mesmo que esteja sujeita ao tempo... porque o tempo passa e essas obras vão junto... é uma arte que amadureceu nos últimos anos, assim como eu, e fiquei surpresa por poder ir, com meus dois filhos agora já adultos, à inauguração do último mural de Kobra na Igreja do Calvário chamado "Fraternidade".  Sim, ali mesmo onde minha história familiar de imigrante, com fé em um mundo melhor... Um dia começou...


STREET ART (español)

La luz del día que entraba por la ventana comenzaba a menguar en aquella tarde de domingo. Lucho estaba de guardia lo que no permitiría que juntos cumpliésemos con nuestro precepto dominical de ir a misa.

La soledad que esas eventuales guardias de final de semana me ocasionaron, se minimizaba cuando iba a la celebración eucarística, permitiendo que el precepto no tuviese el peso de una obligación sino la alegría de un encuentro.

Mis hijitos estaban pequeños y como quien va a una excursión, coloque al menor, aún bebe, en el cochecito y juntos, los tres subimos la empinada Avenida Teodoro Sampaio en dirección a una parroquia popularmente llamada “El Calvario”.


Foto: Drone Cyrillo / conexaoplaneta.com.br/
El silencio del anochecer nos sorprendió en esa región comercial donde predominaba el bullicio del tránsito y el caminar acelerado de los peatones en los días laborales. La Teodoro Sampaio es hasta hoy una avenida comercial…

Siempre que llegábamos a esa Iglesia, entendíamos porque era llamada del Calvario. Ella queda en la parte alta de un morro y subir empujando el cochecito era un verdadero Vía Crucis…

Cuando la misa acabó y regresamos en silencio en medio de la oscuridad de la noche, vimos aparecer en las esquinas, algunos “vándalos” que querían expresar su rebeldía social a través de un incomprendido arte en la época.
Los años han pasado… Mi comprensión artística ha ido madurando, así como mi sensibilidad de ver la vida y la realidad. Hoy escucho rock, leo filosofía, y escribo mis memorias, algo que no hacía veinte años atrás…

No todo acto rebelde es necesariamente bueno, ni toda pintura es una obra de arte, por eso cuando la luz del día llegaba, algunas de esas obras me agradaban, otras no…

El arte urbano es una característica de las grandes ciudades donde los contrastes sociales son grandes. Los artistas suburbanos de antes se han convertido en personas respetables porque tienen algo importante que decir…

Este tipo de expresión puede presentarse como un grito ahogado agrediendo una estética preestablecida o puede ser como una agradable melodía que embellece, deleita o nos lleva a reflexionar en una especie de museo a cielo abierto.


Foto: Martha Palma

En el mes de abril tuve dos experiencias cercanas con este tipo de arte, que cada día me sorprende más. Este arte es de cierta forma un vandalismo urbano, mal comprendido como dice Banksy, sin por eso dejar de llevar mensajes de esperanza a un mundo conturbado como lo hace Kobra.

Me gusta porque es un arte para todos, aunque esté sujeto al tiempo… porque el tiempo pasa y estas obras se van junto con él… Es un arte que ha madurado en estos últimos años, así como yo, y me sorprendí al poder ir, con mis dos hijos ya adultos, a la inauguración del último mural de Kobra en la Iglesia del Calvario llamado “Fraternidad”. Sí, justo ahí donde mi historia familiar de inmigrante con Fe en un mundo mejor… un día comenzó…

Comentários

  1. Sem dúvida, algo da arte popular nos muros tem valor artístico verdadeiro. Mas, no geral, não é arte, é poluição visual mesmo. De resto, depende muito de onde é feita: por muito bonita que possa ser, nem todo mundo gostaria, por exemplo, de "ganhar" uma "obra de arte" no seu muro ou parede (particularmente quando acabou de pagar uma pintura nova e escolhida - locais quase sempre preferenciais pelos "artistas"). No geral, francamente, sou contra este tipo de manifestação, ao menos em locais particulares ou em prédios públicos (igrejas, por exemplo...). Enfim, Martha, neste ponto creio que mais discordamos do que concordamos. Acho que o bom cuidado com as cidades nos "kobra" mais do que uma tolerância com o desrespeito ao bem público e privado, e que há mais trabalho nisso da antiga serpente do que dos verdadeiros artistas - pois a Beleza (que inclui também o respeito ao patrimônio alheio) vem de Deus, não diretamente do ser humano. Desde já peço desculpas se meu comentário não é tão positivo, mas realmente não penso ser bom ou conveniente este tipo de "manifestação cultural", ainda que consequente com a falta de prumo da crise moderna... e é esta a raiz do problema: são manifestações de uma crise profunda, não de um bem cultural.

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    1. Versum10 muito obrigada pelo seu comentário ainda que vc não o considere muito positivo. Acho que é importante olhar todos os lados da realidade, por isso fico grata com a sua colocação.
      Faço um convite para continuar interagindo com as outras publicações do meu blog porque todos os comentários são sempre bem-vindos.

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